
No entanto, quando se verifica o que se faz e produz em termos de preparação psicológica a conclusão é que muito pouco ou nada é prescrito como treinamento propriamente dito.
Para toda nossa experiência física há uma simultaneidade psicológica da mesma maneira, para toda experiência psíquica há uma simultaneidade física. É por isso que, em pressuposto, quanto mais um atleta treina e compete mais naturalmente desenvolverá sua concentração e controle do estresse, por exemplo. Por outro lado, o atleta ao praticar exercícios físicos tende a regular suas emoções e relaxamento com eficácia.
Suspeito que esse “jogo natural” entre a parte física e psíquica produza a conclusão de que habilidades psicológicas (motivação, concentração, controle da ansiedade, cognição e outras) sejam frutos de nossas vivências. Talvez seja por isso que atletas famosos e vitoriosos que nunca fizeram treinamento psicológico descartam o mesmo, no entanto poderiam ser ainda melhores se tivessem se dedicado à sua parte emocional e cognitiva (mental), embora saibamos que treinamento físico, técnico e tático contém aspectos psicológicos indissociáveis como a concentração e persistência que sem esses não teriam êxito em suas tarefas.
É difícil não considerar a importância da parte psicológica para um atleta de rendimento. Isso é ainda mais evidente em uma Copa do Mundo e em Jogos Olímpicos, dada a exposição que os atletas têm na mídia e importância por tudo que representam esses dois maiores eventos do mundo.
Especialmente no futebol brasileiro há muita controvérsia e polêmicas em torno do treinamento psicológico, muitas vezes inúteis para a contribuição do desenvolvimento esportivo. Acontece que a matriz da questão se resume em uma única palavra: conhecimento.
Não há milagre e sim treinamento de qualidade. Tanto na iniciação esportiva, como na formação e no treinamento especializado, todos os profissionais envolvidos devem ter conhecimentos que auxiliem na integração das habilidades físicas e psicológicas que vão compor a preparação técnica, física, tática e psicológica.
Em uma seleção que vai disputar uma Copa do Mundo pode-se ter um especialista em psicologia do esporte e isso ajuda muito, se o mesmo é claro, entender de futebol. Por outro lado, um técnico que tenha ao menos conhecimento básico sobre o assunto poderá dialogar, auxiliar e participar na preparação psicológica de sua equipe.
Imaginemos como é difícil para um atleta de futebol estar diante de um pênalti em uma disputa eliminatória ou final de Copa do Mundo. Caso o mesmo não tenha treinamento do controle da ansiedade e do estresse, concentração e tampouco não saiba técnica de autorregulação psíquica (relaxamento), de certo esse atleta estará em apuros.
Não há mistério: desenvolver habilidades psicológicas para regular, promover e sofisticar a atuação esportiva com eficácia. Ou seja, desenvolver especialmente a concentração, motivação, controle do estresse e ansiedade, harmonia emocional e cognitiva (aspecto mental que envolve a técnica e tática principalmente) e outros como o relacionamento social, é o desafio para aqueles que enxergam o esporte de maneira sistemática e integral.
Observe que todas essas habilidades estão contidas na experiência esportiva desde a tenra idade e, portanto, deveriam ser levadas em conta da mesma maneira como as habilidades físicas.
Importância da habilidade psicológica na Copa do Mundo
Avalie as seguintes situações e conclua o valor da habilidade psicológica do atleta que vai disputar uma Copa do Mundo:
- Saber relaxar para dormir bem à noite antes de uma partida;
- Regular a ansiedade antes de uma cobrança de falta (goleiro ou jogador de linha);
- Concentrar do início ao fim do jogo;
- Motivar-se mesmo frente a um placar adverso;
- Mobilizar suas forças (física, emocional e cognitiva) do início ao fim dos jogos;
- Manter o equilíbrio emocional o tempo todo (mesmo quando de um erro ou provocação do adversário);
- Saber mentalizar o programa mental de um comportamento tático ofensivo ou defensivo (para evitar o jogo aleatório) e relacionar adequadamente com os atores sociais do evento (técnico, companheiros, adversários, árbitros, mídia e outros).
Em resumo, o que se consagrou chamar de “parte psicológica” mais uma vez, poderá decidir o próximo campeão da Copa do Mundo, afinal de contas em uma competição cheia de craques vence aquele que tiver mais “cabeça e coração”, pois os músculos já estão prontos.
Autor: Renato Miranda (Educador físico e doutor em Psicologia do Esporte)
Fonte: uol.com.br/vyaestelar/psicologiadoesporte
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